segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

As Crianças e seus Ideais

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"O ideal de cada um, é uma realidade que não nos agrada...”


Nossa educação cultiva desde cedo em nossas mentes, o ideal do ser alguém importante. Daí a idolatria aos grandes vultos históricos, antigos ou contemporâneos, que nos servem como exemplo de virtude, coragem e realização. São os chamados heróis que todos nós idealizamos ser um dia, seja por admiração dos seus feitos, seja pela história de vida que sempre culmina em sucesso. Mesmo de um herói que depois tenha fracassado, apenas sua história de sucesso chega ao nosso conhecimento, e imagine nossa frustração quando descobrimos depois,
que nosso ídolo era na verdade uma fantasia.

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O culto aos personagens e biografias históricas de sucesso, dentro de nossa cultura, torna-se uma prática corrente uma vez que precisamos de uma autoria para tudo. É a figura que deveremos usar como um exemplo a ser seguido em nossa prática didáctica. Toda sociedade não pode prescindir dos seus heróis, é o momento máximo no culto à idolatria,
o que acaba se tornando um objectivo para todos.
Assim é ensinado nas salas de aula, o culto aos heróis.
Desse modo, o herói se torna importante, e idealizamos ser iguais a ele.
Ele fez coisas incríveis, ele construiu cidades enormes onde antes não havia nada; ele venceu todos os seus inimigos, e os eventos históricos realçam sua imagem como um verdadeiro exemplo a ser seguido por todos. É o culto ao menino pobre que se torna todo-poderoso, rico, virtuoso, vencedor e herói, e adorado por todos como exemplo a ser seguido.

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Mas ao glorificarmos o herói e orientarmos nossos filhos e alunos para que os imitem, estamos também lhe pedindo para que renunciem o que são em favor da imitação de outrem.
Quando desejamos copiar alguém nos tornamos hipócritas, pois estaremos
sempre fingindo ser o que efectivamente não somos, representaremos papéis
que se prestam apenas a agradar pessoas em troca de favores.
Ao ser comparado a outro, querendo ser alguém, a criança logo não se considera importante, não vê a si mesmo assim como ela é, alguém digno de um futuro; não sente então motivação alguma para investir em si, não terá confiança de que é capaz de ser alguém bem sucedido sem imitar ninguém. Idealizará viver a vida de outros, de pessoas bem sucedidas, que se destacaram na vida; terá uma predestinação natural para seguir os
exemplos que tantos glorificam nas escolas e nos meios de comunicação.
Tentará como uma máquina capaz de repetir gestos, imitar seus gostos excêntricos, seu modo de vestir, sua forma de pensar, seu inteiro modo de viver, sem entender que aquelas celebridades, na grande maioria das vezes, não passam de fantasias inexistentes. São em sua maioria personagens criados pelas palavras, pela necessidade que tem a sociedade de criar ídolos, que jamais foram ou serão aquilo que sobre eles falam. Trata-se apenas de um jogo de cena para um público ávido pelas suas extravagâncias teatrais, que alimentará toda uma cadeia que faz da representação sua existência. Ao imitar um personagem, só restará a aquele jovem a frustração sem fim, já que tentará em vão ser aquilo que não é, imitando alguém que não existe.

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Vivemos tão repletos de conhecimentos históricos, tantas são as biografias dos famosos, que guardamos como um trunfo digno de ser exibido publicamente, a ponto de passarmos horas a discutir entre amigos e encontros sociais, sobre tudo aquilo que sabemos sobre eles. E logo, alguém que sabe mais é respeitado como uma grande autoridade no assunto vida alheia.
A vida dos outros nos fascina, principalmente os relatos
dos seus feitos que sabemos nunca são iguais aos nossos.
Normalmente, temos uma vida comum, afazeres semelhantes aos da maioria; talvez um emprego que nos ocupa todos os dias do nascer ao por do sol, talvez uma família com filhos, talvez uma casa que passaremos o resto de nossas vidas tentando reformar e encher de objectos e móveis. Já os famosos nunca são como nós. Sempre nos relatam suas aventuras exóticas, nada comuns; seu mundo de viagens e diversões sem fim; sempre excêntricos nos seus actos e palavras, sempre em evidência em jornais e revistas, sempre sorridentes como se a vida fosse só alegria. Aquilo nos fascina, porque no fundo desejaríamos ser iguais. Idolatramos aquilo que desejamos, e rejeitamos tudo que não nos interessa.

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O que planeja um homem como objectivo necessário ao seu viver, senão aquilo que o fascina? Mas serão estes objectivos coisas reais e necessárias, ou apenas fantasias que se prestam tão somente a permitir que fujam da sua realidade, uma realidade que consideram medíocre, com tão poucas alegrias, com tantas dificuldades e angústias, um viver aparentemente totalmente contrário aos dos ricos e famosos? Ali é um mundo de festas, onde não se mostra ninguém com problemas, onde todos festejam dia e noite, onde o sofrimento e a angústia,
mais parecem um castigo para os pobres.
É um mundo ideal, onde ninguém reclama de nada, onde todos se divertem sem parar, dia após dia; onde o trabalho mais parece uma brincadeira. Não é esse mundo que nossos filhos pequenos conhecem, que idealizam desde cedo graças às fantasias que lhes incutimos desde o berço, inicialmente como uma forma correcta de educação? Mostrar uma mentira, um mundo que não existe de fato, criar uma falsa expectativa em nossos filhos, uma certeza de frustração quando descobrirem o que é real pode ser considerado uma educação correcta? Mas é o modelo vigente dentro dos nossos padrões de sociedade, o modelo que adoptamos e repassamos para eles.
Entre três e seis anos de idade, a criança compreende que o adulto é capaz de pensar assim como ela. Aprende que mentir é uma habilidade social necessária ao convívio amigável entre pessoas, e aprende que o adulto é incapaz de saber o que ela está pensando, fato que não acontecia até os três anos. Se psicologicamente somos formatados a partir dos estereótipos comuns, que integram os costumes sociais do meio onde somos influenciados, algumas diferenças na estrutura da psique, entre os dois géneros humanos existem. Temos de um lado a criança do sexo masculino, que guiado pelo lado direito do cérebro, está predisposto a avaliar as coisas do seu mundo, pelo movimento e noção de espaço; do outro, a criança do sexo feminino, que guiada pelos dois lados do cérebro, interage melhor com as emoções e todas as formas de comunicação.

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Dizer que crianças possuem algum tipo de ideal, é imaturo e infantil, pois criança sequer tem um escopo de identidade definida. Mas desde cedo, podemos observar como certas predisposições serão fortalecidas ao longo do seu crescimento. De tanto observar o uso de palavras como “por favor” ela logo vai compreender que certas palavras são usadas para se conseguir alguma coisa. Como para uma criança pequena o sexo ainda não tem sentido, ela acha que ser menino ou menina, depende apenas das roupas e aparência como, por exemplo, o aspecto do cabelo. Mas logo, na sua mente, vão se juntando os elementos que caracterizam bem os estereótipos para meninos e meninas; os caracteres que identificam
e padronizam cada género dentro das sociedades.
Exercer uma actividade profissional qualquer durante longos anos, este sem dúvida parece ser o destino de quase todos nós. Precisamos trabalhar ou para nosso sustento e da nossa família, ou pelo simples desejo de realizar alguma coisa na vida; não importam os motivos, mas o certo é que teremos que fazer algo para nos mantermos. Se há o sentimento de obrigação em tudo que fazemos, esperamos que pelo menos nossa actividade profissional seja agradável de realizar, isso para que a estadia em nosso local de trabalho, não se transforme em penitências diárias.
Conciliar realização profissional, com o sentimento de satisfação na consecução de nossas tarefas, mais parece ser um sonho distante, uma ideia formulada por alguém, mas que é o ideal de qualquer um. Muitas vezes, as oportunidades escassas e a grande competição por um mesmo posto de trabalho, não nos permite escolher a ocupação que idealizamos para nós. Outras vezes, o acaso acaba por nos colocar diante de tarefas que se revelam como nossa verdadeira vocação. A verdade é que quase nunca sabemos quando é simples acomodação ou vocação. Afinal de contas, o hábito acaba por nos acomodar, e o fato de realizamos a mesma actividade por anos seguidos, nos traz a falsa sensação de segurança e conforto. Preso pelo receio de perder aquele posto de trabalho, nossa mente se torna mais estreita, pois passa a ser dominada pelo temor de mudanças e do futuro.

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Na verdade tudo que seremos em vida, todos os nossos objectivos e propostas de realizações, são circunstanciais, e são mais motivados pelas ofertas que existem em nosso meio, que pelo nosso desejo de realizar algo contrário a tudo isso. Por muitas razões temos que seguir certas regras; temos que nos adequar ao meio e não enfrentá-lo em suas normalizações. No final das contas, na maioria das vezes, vamos exercer uma actividade que não nos realiza, mas ainda teremos como consolo a possibilidade de fazer aquilo que realmente gostamos, nas horas de folga, mesmo que seja apenas como um passatempo. Na impossibilidade de fazer aquilo que realmente gostaríamos, só nos resta a conformação, se possível sem resistência, com uma actividade que não é do nosso agrado, que se torna uma obrigação, e que
teremos que suportá-la durante boa parte de nossas vidas.
Um ideal é um desejo que se opõe à realidade de alguma coisa. Desse modo, se sou medroso, posso ter como ideal ser corajoso. Todas as nossas frustrações são produtos de ideais não concretizados. É sempre a mesma coisa; diante de um processo de escolha, estamos em permanente conflito. Se preciso escolher é por que não tenho certeza, e acabo escolhendo aquilo que, naquele momento, se mostra mais favorável para mim; o que representa uma condição cruel, pois sei que as coisas mudam de rumo a todo instante, e
logo minha escolha pode revelar-se como não mais adequada.
É um risco que me angustia, pois mesmo que ela se mostre viável por um tempo, com o passar desse tempo, a outra opção de alguma forma se mostrará como também adequada, e eis o problema, talvez mais adequada que aquela inicialmente escolhida. Isso ocorre porque ao escolhermos diante de duas ou mais opções, é porque todas elas se mostraram viáveis diante de nossa análise, e esgotada uma delas, logo desejamos também explorar a outra, ou outras.
Diante de uma realidade, logo imaginamos seu oposto, é como funciona todo um processo de escolha, pois toda escolha representa um ideal que queremos alcançar. Sendo um aluno medíocre, logo nos comparamos com o melhor da turma, e meu ideal é ser o melhor. É como o noviço que tem no tornar-se monge, seu objectivo. Desse modo, nossos objectivos se tornam nossas fugas à realidade da coisa. É assim que uma fuga tem quase sempre,
no oposto do objecto pretendido, uma meta.
Se tenho medo devo ser corajoso; se estou com frio procuro me aquecer, se sou pobre quero me tornar rico, se já sou rico não desejo ser pobre. O ideal do medroso é ser corajoso, do pobre é ser rico, do friorento é estar aquecido, do rico é não ficar pobre; sempre o oposto como objectivo, uma fuga à realidade. Mas um oposto é por natureza o contrário de qualquer coisa, e caracteriza para sempre nossa insatisfação com nossas escolhas, nossa eterna contradição, e escolhemos porque nunca estamos certos de nada em nossas vidas.


Autora: Anne Marie Lucille



De nada adianta falarmos de perfeição,
quando sequer nos reconhecemos como imperfeitos


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