domingo, 21 de dezembro de 2008

A noite de Natal...

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Hoje deixo-vos um pequeno excerto da linda história de Sophia de Mello Breyner Andresen "A noite de Natal"Acho esta história lindissíma e faço gosto em partilhar um pouco com vocês.Beijinhos e espero que gostem...


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«(...) Então Joana foi ter com os primos. Daí a uns minutos apareceram as pessoas grandes e foram todos para a mesa. Tinha começado a festa do Natal.
Havia no ar um cheiro de canela e de pinheiro. Em cima da mesa tudo brilhava: as velas, as facas, os copos, as bolas de vidro, as pinhas doiradas. E as pessoas riam e diziam umas as outras: "Bom Natal". Os copos tilintavam com um barulho de alegria e de festa. E vendo tudo isto Joana pensava:
-Com certeza que a Gertrudes se enganou. 0 Natal é uma festa para toda a gente. Amanhã o Manuel vai-me contar tudo. Com certeza que ele também tem presentes.
E consolada com esta esperança Joana voltou a ficar quase tão alegre como antes.
0 Jantar do Natal era igual ao de todos os anos. Primeiro veio a canja, depois o bacalhau assado, depois os perus, depois os pudins de ovos, depois as rabanadas, depois os ananases. No fim do jantar levantaram-se todos, abriu-se de par em par a porta e entraram na sala.


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As luzes eléctricas estavam apagadas. Só ardiam as velas do pinheiro.
Joana tinha nove anos e já tinha visto nove vezes a árvore do Natal. Mas era sempre como se fosse a primeira vez. Da árvore nascia um brilhar maravilhoso que pousava sobre todas as coisas. Era como se o brilho de uma estrela se tivesse aproximado da Terra. Era o Natal. E por isso uma árvore se cobria de luzes e os seus ramos se carregavam de extraordinários frutos em memória da alegria que, numa noite muito antiga, se tinha espalhado sobre a Terra.
E no presépio as figuras de barro, o Menino, a Virgem, São José, a vaca e o burro, pareciam continuar uma doce conversa que jamais tinha sido interrompida. Era uma conversa que se via e não se ouvia.
Joana olhava, olhava, olhava. As vezes lembravam do seu amigo Manuel. Um dos primos puxou-a por um braço.


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- Joana, ali estão os teus presentes.
Joana abriu um por um os embrulhos e as caixas: a boneca, a bola, os livros cheios de desenhos a cores, a caixa de tintas. À sua volta todos riam e conversavam. Todos mostravam uns aos outros os presentes que tinham tido, falando ao mesmo tempo.
E Joana pensava:
-Talvez o Manuel tenha tido um automóvel.
E a festa do Natal continuava. As pessoas grandes sentaram-se nas cadeiras e nos sofás a conversar e as crianças sentaram-se no chão a brincar. Até que alguém disse:
- São onze horas e meia. São quase horas da missa. E são horas de as crianças se irem deitar.
Então as pessoas começaram a sair.
0 Pai e a mãe de Joana também saíram
– Boa noite, minha querida. Bom Natal – disseram eles. E a porta fechou-se.
Daí a um instante saíram as criadas. (...)»


in A Noite de Natal, de Sophia de Mello Breyner Andresen




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