sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Quando nasce um irmão...

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Venho neste primeiro dia do Ano Desejar-lhes um excelente Ano 2009 e deixar-lhes este documento que eu considero muito util a todos nós(Pais)por isso quero comparti-lo com todos vocês.Beijocas Kidas!!!



Quando nasce um irmão
Cada criança é uma pessoa e um caso diferente, único. Cada idade tem as suas particularidades, pelo que é complicado prever

Acto prévio - a comunicação invisível pré-natal
Antes mesmo de nascer, o bebé comunica com os irmãos, da forma «invisível» como as pessoas íntimas comunicam entre si, à semelhança do que acontece entre o feto com o pai. A partir das 34 semanas, mais coisa menos coisa, é normal os irmãos começarem a revelar instabilidade, excitação, tentativas de regressão (ocupação do espaço anterior, para que o bebé novo ¿bata com o nariz na porta¿, manifestada por voltar a querer chupetas ou biberão, dormir na cama dos pais, acordar mais vezes, ter períodos de choro) e humor variável. Algumas vezes chegam mesmo a ter sintomas de doença, como dores de cabeça, de barriga ou qualquer outro, não patenteado geralmente em sinais, mas que chamam a atenção dos pais e provocam uma regressão. Em alguns casos aparece mesmo febre.

Acto 1 - ir ou não à maternidade
É discutível se uma criança deve ou não ir à maternidade. Cada família decidirá por si, e dependendo da idade da criança, sobre o tempo que a mãe ficará na maternidade, os apoios que se possam ter fora e muitas outras coisas. No entanto, há que relembrar que este é um momento fundamental para todos, mas para a criança também. Poderá haver algum conflito de interesse entre os dos vários membros da família: mãe, pai, filho. Pensar prioritariamente no interesse da criança será o melhor, dado ser o membro mais vulnerável:
. numa altura em que só a verdade conta e que a criança está com receio de ser trocada ou abandonada, ela estará atenta aos pormenores, porque é neles «que o diabo se esconde». Herdeira dos sobreviventes, como nós, é uma desconfiada por natureza e por instinto. Andará, por isso, a ver se os pais falam a verdade ou não;
. visitar um hospital, mesmo que se chama maternidade (pública ou privada, tanto faz ¿ as luzes são sempre «de hospital», as batas brancas e o soro com agulha...), onde a criança sabe que vão os doentes, e dizer que a mãe não está doente é algo de absurdo. Das duas uma. Ou algo está errado no local e coitada da mãe ¿ e a criança sofrerá por isso - ou estão-lhe a mentir e a mãe está mesmo doente. E se não lhe querem dizer a verdade, então provavelmente vão mentir sobre muitas outras coisas, ou será que a mãe adoeceu por alguma coisa que ela, criança, fez? Ou será que é o mano que já está a causar a doença da mãe mesmo antes de ter nascido?
. ver o bebé ao lado da mãe, designadamente a mamar, pode ser complicado porque detecta, em todos os movimentos e expressão da mãe, a paixão desta pelo bebé. Será também assim em casa, mas num ambiente externo, que não compreende totalmente e em que a sua presença é limitada, o choque pode ser maior;
. mas mesmo que, durante a visita, tudo possa até correr bem, com o novo mano a um canto, sem ocupar demasiado espaço na relação, há um momento «fatal», em que, sabe-se lá porquê (nem nós adultos, percebemos muito bem), a mãe farta-se da criança e a expulsa do quarto e o pai colabora arrancando-a da mãe e levando-a para longe, deixando a mãe sozinha com o bebé, ou seja, a opção foi feita e o momento seguinte será apenas saber onde a abandonarão ¿ é assim que a criança interpretará o que se passa;
. se o internamento for curto é, provavelmente, preferível deixar a criança com avós ou tios, com quem ela esteja bem habituada, para um «programão» enquanto os pais «vão ali ter um bebé», coisa que é chata e não é apetecível. Pelo contrário, o programa que a criança vai ter é fabuloso, cheio de coisas interessantes e variadas;
. se, por acaso, for à maternidade, então explicar que a casa onde se têm bebés, que é uma casa como a nossa (deveria na realidade ser muito semelhante) está fechada para obras e que por isso a mãe teve que ir para ali, mas que não está doente... foi tudo por causa das tais obras;
. antes da enfermeira ou da auxiliar entrarem a anunciar que «senhoras visitas e meninos têm que sair», o pai pode dizer à criança algo como: «olha, não sei o que tu
pensas, mas eu estou farto de estar aqui. Está calor, não se faz nada, apetecia-me imenso ir comer um gelado e se calhar comer um hamburger. Alinhas nisso? E a mãe?A mãe não pode, olha quem fica a perder é ela, mas a gente depois amanhã traz-lhe um bocadinho para ela não ficar gulosa». Isto não é mentir, é contar a verdade de uma forma leve e sem angústia;
. depois de sair, e se a criança quiser regressar, pode sempre dizer «olha, eu estou cheio de sono e se calhar devíamos ir para casa, eu vou contar-te umas histórias e amanhã, cheios de genica, voltamos lá. Não achas que era um bom plano?».

ACTO 2 - O REGRESSO
Se o vosso melhor amigo, um dia, arrombar a vossa porta e entrar pela vossa casa dentro, tenho a impressão que vocês ¿se passam¿. Mesmo sendo o melhor amigo. Pelo contrário, se o convidarem para jantar, mesmo que se prolongue até às tantas e estejam com sono terão que o aturar, pois vocês é que o convidaram e ele é vosso amigo... No regresso a casa é indispensável que a criança (e o animal que existe dentro dela) não veja o seu território subitamente invadido pela entrada de outro animal. Assim, é bom que a criança vá buscar o mano (ou mana!) ao carro, tenha tempo para o olhar e depois que seja ela a abrir a porta e a introduzi-lo em casa. Será um momento histórico que não é modificável. Para todos os efeitos, foi ela que o introduziu no território. E, mesmo cansados, os pais devem pedir-lhe se «mostra a casa ao mano, diz onde é a caminha dele, o teu quarto, a sala». É bom que seja ela a mostrar ao novo animal que entra os cantos à casa e as idiossincrasias do território, designadamente o seu quarto, no qual o recém-chegado não entra. Devemos dizer-lhe que é uma privilegiada em ter o seu ¿gabinete¿, ao qual o dito ¿estagiário¿ não tem acesso.

ACTO 3 - OS PRESENTES
Uma caneta dourada significa: «meu caro, gostei muito do seu trabalho, mas agora já pode ir pensando em esvaziar as suas gavetas porque o papel da reforma compulsiva já está assinado». Porque razão, então, os pais haveriam de dar algum presente à criança? Não é Natal, não faz anos. Para a compensar? De quê? Acaso a expoliaram de alguma coisa? Pelo contrário, o mano trazer um presente faz todo o sentido. Até porque é normal quem vem de viagem, como é o caso do bebé, trazer alguma coisa para os que ficaram.
Além de ser lógico tem outra vantagem: o bebé não pode ser má pessoa, pois até trouxe um presente e ¿ incrível! ¿ escolheu exactamente aquilo que ela queria. Como é que adivinhou? Não escolheu uma coisa ao acaso, o que significa um acréscimo de afecto e de carinho.

ACTO 4 - AS VISITAS
Além do que escrevi num dos recentes artigos, em como as visitas sociais são indesejáveis e contraproducentes, excepção feita às «fadas madrinhas» que ajudam discretamente, sem se dar por elas, vale a pena referir que um ambiente de grande agitação vai provocar insegurança na criança, dado que é difícil alguém consciencializar-se que as coisas pouco se alteraram quando a confusão é reinante e as conversas díspares e, sobretudo, centradas no irmão, para além do «leilão» que podem representar: «quem vai levar a criança, já que naquela casa existe um modelo mais recente?».

ACTO 6 - A REPOSIÇÃO DA NORMALIDADE
Com o tempo a criança verá que a rotina continua e que ninguém a abandona. Haverá momentos de maior stresse, quando há atrasos a ir buscar, quando as suas expectativas parecem ser defraudadas, é preciso muito cuidado em ter a certeza, por exemplo, que quando nos deslocamos numa fila de uma pastelaria ou nos corredores de um supermercado, as crianças continuam a ver-nos. O nosso desaparecimento, mesmo que por instantes, pode ser vivido como um filme de terror. Com tempo, dar-se-á a habituação à existência e permanência do bebé, e a força dos sentimentos mais negativos será, substituída pela força dos sentimento apelativa.



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